Segundo a presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia (SPA), Rosário Órfão, a nível nacional, a especialidade que representa enfrenta, atualmente, “grandes desafios”. Aquela responsável falava na cerimónia de abertura do Congresso da SPA 2018, em Lisboa, que se centrou no tema “Anesthesiology the heart of the hospital”.
Durante a sua intervenção, Rosário Órfão destacou que, em 2017, houve dois marcos que “balizam” a Anestesiologia nacional. Um deles foi a aprovação da Rede de Referenciação de Anestesiologia, elaborada por um grupo de peritos. O outro foi a realização do segundo Censos desenvolvido pelo Colégio de Anestesiologia da Ordem dos Médicos, com o objetivo de conhecer a realidade desta especialidade médica em Portugal.
“A Rede de Referenciação de Anestesiologia fornece um road map para os serviços da especialidade, para a organização da atividade anestesiológica no organograma hospitalar”, referiu, desenvolvendo que, por sua vez, o Censos identifica dificuldades na implementação da rede, pois “confirma as carências de recursos humanos de que todos nos apercebemos diretamente” e identifica as principais lacunas dos cuidados anestesiológicos prestados aos cidadãos no SNS.
“Com níveis de excelência formativa, os avanços da Ciência e os crescentes ganhos de evolução tecnológica, a Anestesiologia moderna pode trazer aumento da qualidade e segurança dos cuidados médicos, tornando-se fundamental alargar a área de intervenção da nossa especialidade para mais áreas fora do bloco operatório, seja Imagiologia, Medicina da Dor Aguda, Medicina de Emergência e Intensiva, e, particularmente, no âmbito da Medicina Perioperatória”, apontou.
Pais Martins, presidente da Comissão Científica do Congresso da SPA 2018, lamentou que o campo “plurifacetado” da Anestesiologia incomode aqueles que “nos
tentam empurrar para o bloco operatório como atividade limitante”. “Nós recusamos e nunca aceitaremos que seja colocada em causa a amplitude e
diversidade da nossa especialidade”, frisou.
Anestesiologia tem servido como “bom exemplo”
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, também marcou presença no evento, tendo começado por salientar o importante papel que as Sociedades Científicas têm na formação médica contínua, enquanto os Colégios da OM estão mais vocacionados para a formação médica especializada.
“A vossa especialidade tem servido como bom exemplo daquilo que poderá ser feito por outras especialidades, nomeadamente pelos Colégios de Especialidade”,
salientou.
Aproveitou, ainda, o momento para felicitar os anestesiologistas pelo trabalho que têm feito não só em termos da qualidade da Medicina e da formação, mas em “tudo o que está relacionado com o exercício da profissão”.
O bastonário lamentou a “falta de capital”, que não acontece apenas na área da Anestesiologia. “Podíamos estar a formar mais médicos se tivéssemos o capital suficiente que, neste momento, falta no SNS. Faltam, no total, 4 a 5 mil médicos, entre os quais centenas de anestesiologistas”, afirmou.
Graça Freitas, diretora geral da Saúde, também fez questão de estar presente, tendo destacado que “a Anestesiologia é uma especialidade transversal, sobretudo
por ter uma cultura de qualidade e segurança.
Homenagem a três personalidades que prestigiaram a Anestesiologia portuguesa
Houve espaço, ainda para uma homenagem sentida a três pessoas que, segundo Rorário Órfão, “prestigiaram a Anestesiologia” portuguesa: Carlos Guinoth, que foi presidente do Colégio de Especialidade de Anestesiologia da OM, pertenceu ao Conselho Editorial da Revista da SPA, foi do Conselho Cientifico Nacional da Revista Anestesia 2000, e, entre muitas outras funções, dirigiu o Serviço de Anestesiologia do Hospital Egas Moniz.
A título póstumo, foi homenageado António Augusto Martins, falecido em abril de 2017, e que, segundo a presidente da SPA, “dignificou a Anestesiologia Coimbrã, nacional e Europeia. Maria de Lurdes Bela, sua companheira e também anestesiologista, agradeceu, de forma emotiva, a distinção.
Também Nuno Morujão foi homenageado. Ao longo da sua carreira desempenhou diversos cargos no Norte do país, entre os quais, o de diretor da Unidade de Cuidados Intensivos da Urgência do Hospital de São João. No Hospital Pedro Hispano, Unidade Local de Saúde de Matosinhos, além de ter presidido ao conselho de Administração, dirigiu a Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente que criou de raiz, o Bloco Operatório e o Serviço de Anestesiologia. No Hospital de São Marcos em Braga foi diretor de serviço de Anestesiologia e Medicina Intensiva. Atualmente, é diretor do Serviço de Qualidade do Hospital dos Lusíadas Porto.
Protocolo de colaboração une sociedades de Anestesiologia portuguesa e brasileira
No final da cerimónia, foi assinado um protocolo entre a SPA e a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA). Sérgio Luiz do Logar Mattos, presidente da SBA, destacou que o protocolo vai representar uma nova era no relacionamento entre ambas as sociedades.
De acordo com o responsável, a SBA é a terceira maior sociedade de Anestesiologia do mundo, com mais de 12 mil associados.
“Produzimos um robusto programa de formação de novos especialistas. Formamos cerca de 750 por ano. Além disso, temos um programa de educação continuada e publicamos na Revista Brasileira de Anestesiologia, que é indexada e possui o maior fator de impacto da América Latina”, disse. E acrescentou: “A revista recebe hoje um número considerável de artigos de autores de Portugal e com este acordo passará a estar online para os membros da SPA.” Este protocolo envolve ainda a participação recíproca nos congressos anuais de cada sociedade; o desenvolvimento de projetos de pesquisa científica e educacional; o estabelecimento de um intercâmbio de médicos internos, entre outros projetos.
Prémios incentivam a investigação
Outra das novidades foi a instituição do Prémio António Meireles, cujo principal objetivo é incentivar a investigação e a publicação na revista da SPA. Rosário Órfão lembrou que o anestesiologista que dá o nome ao prémio, falecido em 2017, foi o primeiro editor chefe e fundador da revista da SPA. Foi ainda anunciada a criação de um prémio em parceria com a Biojan, que pretende, igualmente, estimular a investigação em Anestesiologia.
Fonte: Justnews
